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segunda-feira, 23 de março de 2009

Coisas Que Só Acontecem Comigo - Parte 2




Setembro de 1999. Depois de assistir a uma aula entediante do curso de engenharia resolvi ir velejar. O tempo estava com clima típico de inverno: Sol, frio e com muito vento. Para quem não sabe, setembro, em Porto Alegre, é conhecido como o "mês do vento". Dia de semana, eram umas 15hs, montei meu catamarã e saí. Pouca gente na água. Estava sozinho. Resolvi ir mais longe, ir para o sul, para pegar o vento limpo e mais forte. Passando Ipanema rumava em direção a Ponta Grossa. Algo terrível estava por vir. O barco capotou e não teve jeito de desvirá-lo. Soluções tinham três: ou esperar ajuda (ninguém me viu, pq alguém daria falta de mim?), ou dar um jeito de desvirar o barco, ou nadar até a margem e conseguir ajuda em terra, algo que só dependeria de mim. Foi o que fiz. Caí na água de long e colete salva-vidas. Sabia que iria ser terrível a sensação térmica e não deu outra. Nesses momentos é preciso ter disciplina, não exagerar nas braçadas para não ter cãibras e tampouco infarto! Foi o que fiz, pacientemente, braçada à braçada ia rumando a Ponta Grossa. Para quem não sabe a penísula da Ponta Grossa é uma região com mata nativa e algumas casas de campo de lazer. Tudo muito precário. Chegando na margem me deparei com pedras escorregadias. Foi difícil escalá-las. Poderia cair, me machucar, cortar o pé, a mão, etc. Tudo devia ser friamente calculado. Mais 5 min e estaria em terra. Mas as coisas não estavam fáceis aquele dia, pastores alemães começaram a latir e vieram em minha direção. Porra, e agora? Corri, corri, corri... Olhei para trás, desta vez tive sorte eles estavam encoleirados com aquelas correntes que permitem eles correrem espaços limitados. O clima estava sombrio. O frio que entrava nos meus pés era simplesmente intenso. Eu estava branco.
Achei uma estrada!! Aleluia, uma luz no fim do túnel, agora era chegar numa parada de ônibus e voltar ao clube. Caminhei durante uns 30 min e nem uma alma viva, muito menos para de ônibus. Foi quando um sr. que estava perto deu uma carona para mim até o clube. Detalhes da conversa:
-"Vou te levar para a cidade. Você vai morrer, está super branco, por favor, tome um cobertor...
- Obrigado, mas eu estou bem.
- Você não sabe o que está dizendo, olhe sua face no espelho!"
Puxa, eu tava sem expressão nenhuma. As minhas energias se foram. Eu era só adrenalina. Mas a pilha estava acabando.
Chegando no clube fui até a secretaria administrativa dar um esporro no pessoal. Depois disso estava crente que iam pegar uma lancha e buscar o barco para mim. Que nada! Pegamos um bote de borracha e levaram a mim mesmo (agora sem expressão facial nenhuma) para buscar o barco. Depois de 1h, quando já não havia mais luz, achamos a embarcação. Desvirei-a com a ajuda do bote quando apareceu a lancha do corpo de bombeiros.
-" Tudo certo ai? querem alguma ajuda?
- Agora não precisa mais (fdp!!!!!)"


Artigo publicado no jornal ZH do dia seguinte:
O VELEJADOR FERNANDO SILVEIRA FOI RESGATADO PELO CORPO DE BOMBEIROS DEPOIS QUE SEU BARCO CAPOTOU NAS IMEDIAÇÕES DA PONTA GROSSA.
Que mentira da braba, vou te dizer!
Regatado??? Eles não fizeram po... nenhuma!
Tudo bem...
Dizem meus amigos mais próximos que depois daquilo nunca mais fui o mesmo.
Esse artigo é para Shackleton ler!!!

2 comentários:

  1. Pô que legal essa história Fernando!!! Não lembrava dela...

    Tens que contar histórias do tempo do colégio também, com certeza deve ter várias, hehehehe

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  2. Conta aquela que tu colocastes uma escada para entrar na FAFARQ.

    Abraço,

    gustavo p

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